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DERMATITES DE CONTATO E TESTE ALÉRGICO DE CONTATO

INTRODUÇÃO

A dermatite de contato caracteriza-se por uma reação eczematosa no local em que a pele entra em contato com alérgenos ambientais.  É uma das dermatoses ocupacionais mais freqüentes, abrangendo cerca de 90 a 95% dos casos[1] e respondem por 18% de todas as doenças ocupacionais.

A dermatite ocupacional é um problema atual crescente, pelo prejuízo pessoal
e pela redução da capacidade laboral do funcionário acarretando ônus ao empregador e conseqüentemente à sociedade. Os funcionários de Serviços de limpeza são um grupo de risco para esta doença por estarem diariamente em contato com produtos irritantes e, a sensibilização alérgica, no ambiente de trabalho torna-se evento freqüente.

Os objetivos deste trabalho incluem a verificação da freqüência da
dermatite alérgica de contato em funcionários de limpeza e demonstração das principais
substâncias sensibilizantes nesse grupo.

 

PACIENTES E MÉTODOS

 

No período entre janeiro e maio de 2007 foram avaliados os funcionários do setor de limpeza da Universidade Católica de Brasília. Optou-se por inclusão universal dos funcionários, que foram submetidos a um exame clínico e a realização do teste de contato com bateria padrão preconizada pelo Grupo Brasileiro de Estudos em Dermatite de Contato (GBEDC-1996), fabricada pela FDA-Allergenic (RJ-Brasil), composta por 30 substâncias. De um total de 69 funcionários, foram excluídos 20. Os critérios de exclusão foram a recusa em participar, o não comparecimento ao trabalho no dia da coleta e retirada dos adesivos antes de completadas 72 horas para leitura.

Foram utilizadas fitas adesivas padrão FINN CHAMBERS®, afixadas à região torácica posterior dos voluntários. Após 72 horas, os adesivos eram removidos e realizada a leitura dos resultados de acordo com padrões universalmente utilizados. Os dados de positividade foram obtidos de acordo com os critérios da Sociedade Brasileira de Dermatologia e os resultados foram correlacionados também a outras informações como sexo, idade, tempo de profissão e uso de equipamento de proteção individual.

Os resultados foram estudados em planilha do programa Excel (Microsoft), a partir da qual foram quantificadas e realizadas análises descritivas dos casos.

 

RESULTADOS

No grupo de 49 funcionários testados, 36 tiveram testes positivos (73,4%). Dentre estes, 19 apresentaram testes positivos a uma ou mais substâncias (38,7%) e em 13 (26,5%) todos os testes foram negativos.

A distribuição dos pacientes de acordo com o sexo é apresentada no gráfico 1. Foram 12 homens (24,48%) e 37 mulheres (75,51%). A média de idade foi de 38,8 anos.

O gráfico 2  relaciona a distribuição dos pacientes de acordo com tempo de serviço. Foram 27 pacientes (55,1%) com tempo de serviço em setor de limpeza há menos de 5 anos e 22 pacientes  (44,89%)  entre 6 a 10 anos.

No gráfico 3 tem-se o índice de sensibilização das substâncias testadas. Os principais sensibilizantes foram Sulfato de Níquel com prevalência de 34,6%, Thimerosal de 14,2%, Nitrofurasona de 12,2%, Cloreto de cobalto, Antraquinona e Perfume (MIX) de 10,2% e Bálsamo do Peru 8,16%. Os demais elementos testados apresentaram índices inferiores a 5%.

 

DISCUSSÃO

 

Muitas variáveis estão envolvidas na sensibilização da pele dos funcionários da limpeza; não só pelo tipo de trabalho, mas pelo tempo de exposição às substâncias potencialmente alergênicas, tipo de exposição ao agente, uso de equipamentos de proteção individual (EPI) 2 e até mesmo as alterações cutâneas geradas por possível dermatite por irritação possibilitam freqüência relevante desse tipo de dermatose no grupo.

Neste trabalho observaram-se alta reatividade aos testes de contato, cerca de 73,4%. O alto grau de sensibilização dos pacientes estudados pode demonstrar que a atividade de limpeza está relacionada a um maior risco do desenvolvimento de dermatite de contato profissional. No entanto, o elevado índice de perdas na população estudada (28,9%) deve ser considerado uma limitação do estudo, que pode ter subestimado ou superestimado a real prevalência de dermatites de contato nesses profissionais.

A presença de alérgenos, especificamente em produtos de limpeza, têm sido
relatada como um potente desencadeador e mantenedor da dermatite no trabalhador 3. O teste de contato, aliado a avaliação clínica criteriosa, é um método consideravelmente eficaz para confirmar seu diagnóstico etiológico distinguindo inclusive o eczema alérgico de contato do eczema de contato por irritação primária.

Nesse grupo, as principais substâncias sensibilizantes encontradas foram: timerosol, sulfato de níquel, perfume-mix, nitrofurazona, cloreto de cobalto e antraquinona.  

O níquel é um alérgeno de contato de grande importância, estando presente em bijouterias, tintas, vernizes, cerâmica, moedas, cimento, detergentes, fungicidas, inseticidas, solda, tintura de cabelo, aço inoxidável, dentre outros. A relevância da exposição ocupacional como causa da dermatite ainda é questionada visto que a sensibilização pode ter ocorrido previamente. No entanto, estima-se que o níquel seja o fator predominante em 25% dos portadores dermatite ocupacional e estudos comprovam ser o principal alérgeno ocupacional atuante no sexo feminino, e oitavo mais comum entre os homens.(1) Trabalhadores da limpeza estariam potencialmente em risco(1), sendo que aqueles que lidam com materiais fluidos teriam maior exposição, visto que os fluidos seriam capazes de liberar o níquel dos utensílios.(2)

Acredita-se que a hipersensibilidade ao níquel seja predominante no sexo feminino devido à intensa utilização de objetos pessoais que liberam este metal;(3) sendo que a sensibilização tem como principal fator o ambiental, deixando a genética em segundo plano.(4) Matilla et al.(5) relataram aumento da incidência de alergia ao níquel, principalmente em mulheres entre 1985 e 1995, associado ao uso de bijuterias e piercings. No entanto, a obrigatoriedade de utilização de metais com liberação de menores quantidades de níquel já resultou em índices menores de sensibilização nos últimos anos. Atualmente, a prevalência desta patologia nos países industrializados é de cerca de 10-20% no sexo feminino e de 4-7% no sexo masculino(6).

Em estudo prospectivo com duração de 5 anos, Manu Shah e cols.(2) observaram que grande parte dos pacientes que se mostraram alérgicos ao níquel haviam sido sensibilizados previamente por bijuterias e a maioria das dermatites ocupacionais aparentaram ser advindos de uma segunda exposição, e não só de um primeiro contato. (7) Para identificar as dermatites de fundo ocupacional, Manu Shah e cols. utilizaram como critério o acometimento das mãos, visto que são bastante expostas a fatores ambientais durante o trabalho.(7)

No presente estudo, 75,51% da população estudada era constituída por mulheres, fato que contribuiu para o níquel ser a substância com maior número de testes positivos (34,6%). Durante a entrevista realizada antes da aplicação do patch test, nenhum paciente afirmou ser alérgico a metais ou bijuterias, o que não afasta a possibilidade de sensibilização prévia dos pacientes. O acometimento das mãos é de difícil avaliação, visto que 83% dos pacientes avaliados sempre fazem uso de luvas.

 

 

 

CONCLUSÃO

O TESTE DE CONTATO É UMA FERRAMENTA IMPORTANTE PARA A DETECÇÃO DE ALERGIAS DE CONTATO, SEJA EM ATIVIDADES PROFISSIONAIS OU DEMAIS ATIVIDADES

 

Bibliografia

  1. Shum KW, Meyer JD, Chen Y, Cherry N, Gawkrodger DJ. Occupational contact dermatitis to nickel: experience of the British dermatologists (EPIDERM) and occupational physicians (OPRA) surveillance schemes. Occup Environ Med. 2003 Dec;60(12):954-7.    

  2. Shah M, Lewis FM, Gawkrodger DJ. Nickel as an occupational allergen. A survey of 368 nickel-sensitive subjects. Arch Dermatol. 1998 Oct;134(10):1231-6. 

  3. Ravasqueira A. et al. Dermatite de contacto sistêmica. A propósito de um caso clínico. Rev Port Imunoalergologia 2007; 15 (3): 259-265

  4. Bryld LE, Hindsberger C, Kyvik KO, Agner T, Menne T. Genetic factors in nickel allergy evaluated in a population-based female twin sample. J Invest Dermatol. 2004 Dec;123(6):1025-9.

  5. Mattila L, Kilpeläinen M, Terho EO, Koskenvuo M, Helenius H, Kalimo K. Prevalence of nickel allergy among finnish university students in 1995. Contact Dermatitis. 2001; 44:218-23. 

  6. Schiavino D. Systemic nickel allergy. Int J Immunopathol Pharmacol 2005; 18; 7-9.

  7. Basketter DA, Briatico-Vangosa G, Kaestner W, et al. Nickel, cobalt, and chromium in consumer products: a role in allergic contact dermatitis? Contact Dermatitis. 1993;28:15-25.

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